21/07/11

Exposição 25 anos da ADPEC

Este ano (2011) a ADPEC comemora 25 anos de existência, o presente texto aborda o quarto de século desta Associação. Foi no ano de 1986 que a ADPEC foi legalmente constituída no dia 24 de Outubro, tendo os seus estatutos sido publicados no Diário da República a 13 de Dezembro do mesmo ano, sendo em 1992 reconhecida como pessoa colectiva de utilidade pública (Diário da República, II série, 15 Maio de 1992).
Esta Associação foi formada por um grupo de jovens glorianos, que teve a visão estratégica das mutações que estavam a ocorrer no seio da comunidade gloriana. Tornou-se num movimento de cidadania, organizado por jovens que tiveram a consciencialização cívica das alterações patrimoniais, identitárias e culturais da Glória do Ribatejo.
Os objectivos desta associação foram bem específicos: estudar, recolher e divulgar este património, tendo em conta a necessidade de assegurar especialmente às camadas mais jovens o despertar do interesse e da importância do legado cultural que existia e continua ainda a existir na Glória do Ribatejo.
Os primeiros passos desta jovem Associação traduziram-se numa recolha exaustiva junto da comunidade, de objectos e utensílios que foram cedidos pela população.
Em 1988 foi criado o primeiro núcleo museológico: a Casa Tradicional. A ajuda da RARET foi fundamental na aquisição desta habitação e do respectivo terreno. Ao longo dos tempos a RARET foi um mecenas e colaborador de grande apoio à ADPEC.
A colaboração e prestação da Professora Alzira (Professora na RARET) e do seu marido Santos Costa, ambos sócios fundadores, foram também uma ajuda impulsionadora para a Associação nos seus primeiros anos de vida.
A Casa Tradicional representa a habitação de uma modesta família gloriana. Ao transpormos a porta de entrada, deparamos com duas divisões: a divisão mais espaçosa é constituída pela cozinha e a “sala de fora”, a outra divisão o quarto, sendo a sua privacidade defendida apenas por uma cortina, nas traseiras da casa encontra-se um outro anexo, o quintal onde se destaca o forno de cozer o pão.
Anos mais tarde em 1994 inicia-se a edificação do Museu Etnográfico da Glória um sonho tornado realidade. Finalmente haveria um repositório dinâmico que podia albergar os objectos e recolhas efectuados ao longo dos anos pela ADPEC.
O Museu Etnográfico abre ao público em 1997 e assume-se como um importante observatório da cultura gloriana, na medida em que conserva, interpreta, divulga e valoriza os testemunhos materiais e imateriais da comunidade gloriana.
A ADPEC tem também desenvolvido esforços na recuperação de certas tradições. Veja-se o caso dos desfiles de fogaças na procissão das festas realizado 1994, uma ideia que partiu desta associação e que depois teve continuidade com os ranchos folclóricos: Casa do Povo e das Janeiras. As edições da ADPEC, referenciado aspectos históricos, antropológicos e etnográficos, muito têm contribuído para a divulgação do nosso património.
Nos últimos anos a ADPEC tem apostado em exposição temáticas, o que implica a escolha e preparação do tema. A parte activa no desenvolvimento da exposição a conceber é a participação empenhada da comunidade, facultando-nos objectos, utensílios, fotografias ou histórias de vida que vão compor esta exposição.
Foram muito os temas expostos, a título exemplificativo destacam-se:
-2006: “A meninice – Histórias de infância na Glória do Ribatejo” – Recordamos os brinquedos e as brincadeiras de crianças, que não tendo dinheiro para adquirir brinquedos faziam com muita astúcia os seus brinquedos. Recriamos o ambiente de uma escola típica do Estado-Novo, onde nem sequer faltou o crucifixo e as imagens de Salazar e Marechal Carmona. Uma exposição cheia de afectos e emotividades, muitas pessoas reviram-se nas fotografias e nos brinquedos da sua infância.
- 2007: “Quando Eles estavam lá fora – memórias da Ultramar na Glória do Ribatejo” – Exposição que contou com uma colaboração de muitos glorianos que estiveram na Guerra Colonial. Tema controverso, sensível e comovente, onde prestamos homenagem aos 2 soldados glorianos que morreram nesta guerra. José Feijão e João Nunes


- 2008: “Artes da agulha e do dedal na Glória do Ribatejo” – Exposição dedicado ao universo da mulher gloriana, que contou com a cedência de inúmeras peças bordadas que revelaram o preciosismo e a técnica das mulheres glorianas na execução destas peças. Fizemos também um levantamento e identificamos os principais tipos de bordados. Foi editado o livro “Os bordados a ponto de cruz da Glória do Ribatejo”.
- 2009 – “As festas da Glória” – O tema dos festejos em honra de Nossa Senhora da Glória, foi apresentado ao público. A comparação entre as festas no passado e as festas da actualidade, revelam-nos que apesar de certas diferenças, a mesma crença e a participação do povo gloriano mantêm-se inalteráveis.
- 2010: “As últimas carroças da Glória” - Esta última exposição feita de saudosismo do tempo em que meninos passávamos nas carroças dos nossos avós e pais. Hoje apenas existem 7 carroças em movimento na Glória, é um fim de um ciclo que se fecha. Nesta exposição foi realizado um registo fotográfico e vídeo destes veículos de tracção animal, o qual foi muito apreciado pela população e que se traduz num registo didáctico para as gerações futuras que certamente já não observará na nossa charneca uma carroça.
Ao comemorar este quarto de século a ADPEC tem como é normal na vida das associações altos e baixos, contudo esta associação nunca baixou os braços nem nunca baixará na defesa e valorização do património. Que venham mais 25 anos na defesa e divulgação do património gloriano!

O Presidente da Direcção da ADPEC

Roberto Caneira

Sem comentários: