20/08/12

Exposição "O trabalho de farnel aviado"


EXPOSIÇÃO "O TRABALHO DE FARNEL AVIADO"




A Glória do Ribatejo teve na agricultura o seu grande meio de subsistência. Sem grandes lavradores e casas agrícolas na comunidade, muitos glorianos eram obrigados a procurar trabalho para os proprietários agrícolas da região: Casa Cadaval; Prudêncio da Silva, Liques, Oliveira e Sousa entre muitos outros.
Estes lavradores detinham grandes extensões de terrenos nas lezírias de Vila Franca de Xira, Benfica do Ribatejo ou Almeirim, obrigando desta forma os ranchos glorianos a trabalharem nestes locais, e a ficarem fora da Glória do Ribatejo durante 15 dias ou mais tempo. Este tipo de trabalho era designado de «farnel aviado», nome que provém dos grandes sacos (farnel) que levavam os mantimentos essenciais (o avio) para as suas longas estadias nos campos.
A apanha do trabalho ocorria nas praças de jorna. As praças da jorna consistiam numa espécie de “mercado” de mão-de-obra onde se encontravam os trabalhadores rurais e os capatazes dos grandes proprietários agrícolas. Os primeiros vendiam a sua força de trabalho aos capatazes que lhe ofereciam a jorna como forma de pagamento, num sistema organizativo quase feudal.
A celebração deste contrato era feita de forma verbal e selava-se com uma molhadura, para os homens vinho e para as mulheres linhas de várias cores para bordarem.
Ranchos de homens de alforges aos ombros e mulheres com farnéis à cabeça ou à ilharga partiam a pé para os campos, percorrendo cerca de 20 a 30km. A aldeia nesta altura ficava com uma aparência estranha de quase abandono, apenas ficavam os idosos já gastos para o trabalho, crianças de tenra idade que ainda não tinham idade nem corpo para trabalharem.
Durante a sua estadia fora da terra ficavam alojados num quartel para trabalharem do nascer ao pôr-do-sol. A grande exigência dos ranchos da Glória era terem um quartel separado dos outros ranchos de trabalhadores.
Nas décadas de 60 e 70 com as alterações sociais, económicas e políticas ocorridas na sociedade portuguesa alteraram por completo o sector agrícola. As praças da jorna desaparecem, os grandes ranchos da Glória que ficavam semanas fora, também acabam. Agora deslocam-se para o trabalho em camionetas ou tractores e regressam diariamente a casa.
Nestas décadas é introduzida um novo produto agrícola no Ribatejo, o tomate, que mobilizou mão-de-obra das mulheres glorianas. Era um trabalho esgotante e cansativo, as mulheres vergadas sob o sol escaldante de Agosto apanhavam e carregavam à cabeça canecos e grades cheias de tomate.
Na década de 90, a mecanização da apanha do tomate reduziu os grandes ranchos de mulheres glorianas, que logo pela manhã cedo partiam para os campos. Com a mecanização também se assistiu ao fim da animação alegre das vozes das mulheres, agora o único barulho que se ouve era o som mecânico das máquinas que entoava pelos campos.
Esta exposição para além do teor didáctico e identitário, na medida que coloca à disposição do público objectos, fotografias e histórias de vida destes tempos, revela-nos também as condições quase sobre humanas que muitos trabalhadores glorianos tiveram que passar para sobreviver e das inúmeras dificuldades que sentiram quando não havia trabalho e não havia pão na mesa.


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