21/04/06

O CICLO DO PÃO III

O pão “é o singelo alimento, feito de farinha amassado em água cozida no forno, remonta entre muito dos povos s terra, à mais longínqua antiguidade. É o alimento básico em toda a história da economia doméstica do homem – o pão nosso de cada dia (...). Divinizado e sagrado, o pão transfigura-se na substância simultaneamente corpórea e espiritual, do próprio Deus: o Senhor na noite em que foi entregue, tomou o pão, e dando graças, o partiu e disse “tomai e comei, isto é o meu corpo – aceipite et manducate, hor est corpus meum” (...).
Ainda hoje na Glória do Ribatejo, são várias as pessoas que possuem o seu próprio forno de cozer o pão, e que semanalmente tal como os seus antepassados continuam a cozer o seu pão.
Tal como nas várias localidades rurais, na Glória do Ribatejo, também existiu um forno comunitário, porque nem todas as pessoas tinham posses para construir um forno.
O forno comunitário pertenceu à Sr.ª Teresa, e funcionava da seguinte forma, as pessoas que pretendiam cozer pão, falavam com a proprietária, tinham que levar a lenha para o forno e a massa, como pagamento por utilização do forno, deixavam um ou dois pães à Sr.ª Teresa. Hoje nada resta deste forno comunitário, contudo sabemos a sua localização, através da toponímia – Travessa do Forno.
Cozer pão é uma tarefa essencialmente feminina, a mulher levanta-se muito cedo, para amassar a farinha de trigo, que tinha ido buscar à moagem, e é um processo muito cansativo e repetitivo, e composto por várias fases.
Em primeiro lugar a mulher juntava água quente à farinha num alguidar de barro (em tempos antigos fazia esta tarefa numa masseira feita de madeira), começava então a amassar, em seguida colocava o fermento no meio da massa, voltava novamente a amassar, repetindo este processo várias vezes até a massa ficar estaladiça.
Depois de verificar que a massa está boa, a mulher “benze o pão”, ou seja faz uma cruz na massa, e diz a seguintes palavras: “abençoado seja”, ou então “Deus te acrescente que é para muita gente”, e tapa-se a massa com uma saia, chama-se a isto “embrulhar o pão”, e aguarda-se cerca de uma hora, para que comece a fermentar.
Na fase seguinte a mulher, vai acender o forno, usando para o efeito lenha de sobreiro, segundo nos dizem é aquela que dá melhor fogo. Este processo demora cerca de uma hora e meia, até o forno ficar bem quente.
Passado uma hora a mulher, volta novamente ao alguidar da massa e começa a fazer pequena bolinhas de massa, e coloca-as num tabuleiro de madeira.
Quando o forno já está bem quente, a mulher com auxílio de um rodo começa a puxar as brasas para o boca do forno, e procede à sua limpeza, com um “barredoiro” (deturpação de varadouro), que são vários tecidos velhos, colocados na ponta de um pau, e que a mulher passa por água e leva ao forno para limpar o seu interior do forno.
Para saber se o forno, está quente lança um punhado de farinha para o seu interior, e verifica se esta fica escura, se escurecer pode começar a colocar o pão no forno.
Para colocar o pão no forno, a mulher usa uma pá de madeira, mas antes de o colocar no forno, dá um traço com uma faca na massa.
Passado uma hora o pão está pronto a ser retirado, e é colocado no tabuleiro, onde será guardado.


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